Em meio à crise do Coronavírus, a Sanepar e o Governo do Estado brincam com a vida dos moradores da periferia de Curitiba

por Coletivo Alicerce Curitiba

No último dia 13 a Sanepar anunciou mais uma série de interrupções no fornecimento de água na grande Curitiba. De acordo com a empresa, os motivos seriam o alto consumo e a estiagem; choveu pouco, o calor foi grande, e com isso, o consumo aumentou. Apesar de a empresa praticamente atribuir à população os problemas de abastecimento, o que podemos perceber é que a falta de planejamento do poder público e a priorização dos lucros dos acionistas foram os fatores determinantes para o atual estado das coisas.

Conforme anunciado, cerca de 150 mil pessoas (a cada dia) serão submetidas ao rodízio para “evitar maiores problemas”. Nos comunicados e entrevistas à imprensa, a Sanepar e o Governo do Estado não dizem que as obras da represa do Miringuava (São José dos Pinhais), que deveria ter sido inaugurada em 2019, ficaram paradas, o que acabou prejudicando o abastecimento da região metropolitana que concentra 1/3 da população do Paraná. Não dizem também que, apesar de Sanepar ter apresentado lucros recordes nos anos de 2018 e 2019, as obras de saneamento básico avançaram de forma insuficiente para atender à demanda.

Enquanto isso, moradores de bairros da periferia como Cidade Industrial, Sítio Cercado, Tatuquara, Campo de Santana, Ganchinho, Alto boqueirão e cidades da região metropolitana relatam dificuldades com o rodízio imposto pela companhia. Em um período em que a população do Brasil e do Estado tem que lidar com uma explosão no número de casos do novo coronavírus, os diretores e os representantes da empresa dão entrevistas afirmando que uma caixa d’água de 500 litros, o tipo mais comum presente em bairros da periferia, seria o suficiente para dar conta das necessidades de uma família.

Seria mesmo? Tal afirmação demonstra desconhecimento e desprezo pela realidade da periferia da cidade, onde a maioria das casas não contam sequer com caixa d’água, onde se é comum ter mais de 5 pessoas em uma única moradia. Os 500 litros que a Sanepar faz referência são insuficientes em momentos de “normalidade” — levando em conta a média de consumo diário recomendado pela ONU — que dirá quando enfrentamos uma pandemia.

Como a população vai lavar as mãos várias vezes ao dia, como recomendado para prevenção do vírus? Como essas famílias manterão o isolamento em moradias precárias, sem acesso a serviços básicos? 1 em cada 10 pessoas vive em situação de irregularidade em Curitiba, 170 mil pessoas em assentamentos irregulares, compondo um déficit de 42 mil casas, em sua maioria nas periferias da cidade. O descaso do governo com essas famílias é alarmante e precisa ser denunciado, pois viola não apenas o direito ao acesso a serviços públicos, mas também o direito à saúde nesse grave momento de crise.

A vida destas famílias está sendo colocada em risco e não há qualquer justificativa para a imposição de um racionamento que impede a adoção de medidas de higiene contra o coronavírus. Este descaso do governo do Estado e da Sanepar expõe toda a população — considerando que muitos desses trabalhadores são informais, autônomos e terceirizados que não possuem condições materiais para manterem-se em casa isolados — podendo ampliar a transmissão do vírus.

Por isso somos contra as medidas adotadas que colocam os lucros em detrimento da vida! Em defesa da saúde das/os trabalhadoras/es e das periferias!

Confira detalhes das informações citadas nos links abaixo:

Falta de água e saneamento em meio a pandemia

Em meio à pandemia, famílias enfrentam Covid-19 sem água

Projeção coronavírus

Sobre o atraso na construção da represa de Miriguava

Falta de obras pode levar metrópoles a enfrentar escassez de água, prevê ANA

O consumo recomendado de água pela ONU é aproximadamente 110ltrs. 

Lucro da Sanepar às nossas custas

Precariedade das casas nas periferias

 

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